
Com mais de 97% das urnas apuradas, o candidato do Partido Democrata Cristão (PDC), Rodrigo Paz, foi eleito presidente da Bolívia neste domingo (19), em uma tendência considerada irreversível, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do país. Aos 58 anos, Paz — filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora — já foi prefeito de Tarija e atualmente exerce o cargo de senador. Ele defende um modelo de “capitalismo para todos” e se autodefine como um político de centro. Entre as principais propostas do seu programa de governo estão o congelamento das atividades de estatais deficitárias e a suspensão de novas contratações públicas.
O novo presidente enfrentará desafios profundos, especialmente no campo econômico. Durante a campanha, Paz defendeu a descentralização administrativa e o fortalecimento do setor privado, sem abrir mão dos programas sociais. A tarefa não será simples: o país vive fortes desequilíbrios econômicos e registrou, no primeiro semestre deste ano, sua primeira recessão em quase 40 anos, com queda de 2,4% no PIB. A produção de gás natural — principal fonte de receita nacional — está em declínio, e a atividade extrativa como um todo recuou 12,98% no segundo trimestre. A Bolívia também enfrenta uma grave escassez de dólares, o que tem pressionado os preços, dificultado importações e comprometido o abastecimento de combustíveis, quase totalmente importados.
As filas quilométricas nos postos de gasolina e diesel se tornaram parte da rotina dos bolivianos. Motoristas de ônibus e caminhões chegam a esperar até três dias para conseguir abastecer. A situação chegou a gerar preocupações logísticas durante as eleições de domingo.
O governo de Luis Arce e a estatal YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos) garantiram ao TSE o fornecimento de combustível necessário para a realização do pleito. No entanto, a escassez continua afetando setores essenciais, como a produção de alimentos.
No início da semana, a Câmara Agropecuária do Oriente (CAO) — que reúne produtores da região leste do país — alertou que a falta de combustível paralisou a produção e pediu ao novo presidente uma solução definitiva para o problema.
“Durante meses suportamos o quanto foi possível, fizemos o impossível para manter a produção viva, os motores ligados, as colheitas em dia e os alimentos nas mesas bolivianas. Hoje, o agro está em terapia intensiva e a um passo de cruzar um ponto sem retorno”, afirmou o presidente da CAO, Klaus Freking.
A escassez de dólares e combustíveis também impulsiona outro problema grave: a inflação, que atingiu 23,32% em setembro no acumulado de 12 meses — um dos índices mais altos das últimas décadas no país.