Por Leo Godinho
Nos últimos anos, o cenário político brasileiro foi fortemente influenciado pela atuação de influenciadores digitais e artistas, que se tornaram figuras de grande alcance no debate público. Entre eles, destacam-se nomes como Felipe Neto, Anitta, Pablo Vittar e Ludmilla, cujas opiniões repercutiram amplamente, especialmente durante o governo de Jair Bolsonaro e nas eleições presidenciais de 2022. Contudo, uma análise mais profunda revela incoerências, superficialidades e a falta de continuidade no engajamento político desses personagens, o que levanta questionamentos sobre o real impacto e responsabilidade de sua influência.
Felipe Neto: Da Era Dilma ao Governo Bolsonaro
Felipe Neto, um dos influenciadores mais ativos no combate ao governo Bolsonaro, utilizou frequentemente as redes sociais para mobilizar seus seguidores e pautar questões políticas e econômicas. Entre suas críticas, destacaram-se menções a indicadores como o preço da gasolina e o dólar, “abaixo de R$ 5” e o custo da picanha, então em torno de R$ 40. Esses dados eram utilizados para evidenciar o empobrecimento da população brasileira sob a gestão de Bolsonaro.
Contudo, tais afirmações ignoraram fatores macroeconômicos relevantes, como a conjuntura internacional marcada pela pandemia de COVID-19, que impactou as cadeias de suprimentos, e a guerra na Ucrânia, que agravou a crise nos combustíveis. Além disso, com a mudança de governo, esses indicadores não apenas não melhoraram como pioraram: a gasolina superou os R$ 7 em diversos momentos, o dólar oscilou acima de R$ 5 e a picanha tornou-se ainda mais cara. Essas discrepâncias expuseram a superficialidade das análises de Felipe Neto e geraram críticas à sua atuação.
Importante destacar que, durante os governos de Dilma Rousseff, Felipe Neto tinha uma postura política diferente, focando mais em críticas sociais do que em questões diretamente ligadas à economia ou à gestão pública. Isso demonstra uma transição significativa em seu posicionamento, que pareceu ganhar contornos mais partidários no período bolsonarista.
Anitta e o Silêncio Pós-Eleições
Anitta também desempenhou um papel de destaque durante as eleições, mobilizando suas redes sociais para criticar Bolsonaro e declarar apoio a Lula. Sua influência foi amplamente reconhecida, especialmente por engajar públicos que tradicionalmente não acompanham a política de forma tão atenta.
Porém, após a vitória de Lula, Anitta praticamente desapareceu do debate político. Sua ausência em momentos cruciais de discussões sobre políticas públicas e situações controversas no novo governo levantou questionamentos sobre o caráter oportunista de seu engajamento. Esse silêncio reforçou a percepção de que muitas celebridades veem a política como uma pauta temporária, utilizada apenas quando conveniente ou necessária para reforçar sua relevância.
A Influência dos Famosos e Suas Contradições
Outros artistas e celebridades seguiram um padrão semelhante. Pablo Vittar, Ludmilla e outros artistas se engajaram ativamente durante o período eleitoral, promovendo narrativas contrárias a Bolsonaro. Entretanto, após a eleição de Lula, muitos desses nomes reduziram significativamente sua presença em debates políticos, mesmo diante de situações que demandariam uma postura crítica.
Esse fenômeno pode ser explicado por vários fatores:
- Engajamento Seletivo: A maior parte das críticas foi direcionada exclusivamente ao governo Bolsonaro, sugerindo que o engajamento era menos sobre as questões estruturais do país e mais sobre um antagonismo pessoal.
- Falta de Expertise: Muitos influenciadores e artistas carecem de conhecimento técnico para analisar a complexidade das questões políticas e econômicas, o que resulta em discursos superficiais e, frequentemente, desinformados.
- Alinhamento por Interesse: Em alguns casos, o apoio a determinados candidatos ou partidos está mais relacionado a interesses pessoais ou profissionais do que a um compromisso genuíno com as causas defendidas.
- Reputação e Pressão: Criticar o governo atual poderia gerar atritos com sua base de apoiadores ou aliados políticos, resultando em um silêncio estratégico para preservar a imagem.
Reflexos para a Sociedade e a Democracia
A atuação de influenciadores digitais e artistas no debate político traz riscos significativos para a democracia:
- Desinformação: Ao priorizar narrativas simplistas e emocionais, essas figuras muitas vezes propagam informações distorcidas, que dificultam o entendimento das questões reais.
- Substituição de Especialistas: A valorização de opiniões superficiais em detrimento de análises técnicas reduz a qualidade do debate público.
- Desgaste de Credibilidade: A incoerência e o silêncio estratégico desgastam a credibilidade dessas figuras, gerando frustração em parte do público.
Conclusão
O engajamento político de influenciadores digitais e artistas pode ser uma ferramenta poderosa de mobilização social, mas também traz grandes responsabilidades. A falta de consistência, o silêncio seletivo e as análises superficiais comprometem a contribuição dessas figuras para o debate público. É essencial que o público desenvolva um pensamento crítico, avaliando as mensagens de influenciadores de forma criteriosa, e que esses agentes reconheçam sua responsabilidade em abordar questões tão complexas com maior seriedade e profundidade.
Vários desses “artistas” deixando o Brasil com destino ao capitalista EUA…..