Por Redação
Vários fatores contribuíram para a rápida queda das Forças Armadas sírias e sua subsequente retirada das batalhas contra os rebeldes.
O cenário atual da Síria
Poucos imaginavam a velocidade com que a situação se deterioraria no país nos últimos dias, especialmente após o avanço da oposição armada liderada pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), sediado na província de Idlib, no noroeste da Síria. A ofensiva final do grupo surpreendeu analistas internacionais e tornou-se um golpe para o governo de Bashar al-Assad, mesmo após ameaças de repressão contra os rebeldes.
A situação de instabilidade rapidamente gerou questionamentos sobre as razões que levaram ao colapso tão veloz do Exército sírio e sua perda de controle em várias regiões estratégicas.
O poderio militar da Síria e suas fraquezas
Apesar de estar entre os exércitos mais fortes do mundo árabe, o Exército sírio nunca conseguiu consolidar seu poder devido a múltiplos desafios. O Exército da Síria ocupa atualmente a 60ª posição mundial em termos de poder militar, conforme o Índice Global de Poder de Fogo de 2024.
Com mais de 1,5 mil tanques, 3 mil veículos blindados e vários sistemas de artilharia, o Exército possui um poder militar considerável, mas fortemente comprometido por anos de conflito interno e perda de recursos estratégicos.
Perdas humanas e a deserção
O Exército sírio sofreu perdas humanas significativas nos primeiros anos da guerra civil, com cerca de 300 mil soldados mortos ou desertores nos últimos anos de conflito. A deserção foi um dos principais fatores para a perda de controle sobre regiões-chave, como Alepo e Hama.
Além disso, a Força Aérea sofreu severas baixas devido a ataques externos e conflitos internos, e muitos soldados ficaram desmotivados pela combinação de salários baixos e condições de vida precárias.
Impacto da crise econômica
Embora a Síria conte com importantes reservas de petróleo e gás, a exploração desses recursos foi gravemente afetada pela guerra, e as sanções internacionais agravaram a situação.
Desde a implementação da Lei César, imposta pelos Estados Unidos em 2020 e que restringiu negócios com o governo sírio, a economia local foi severamente afetada. Os salários dos militares eram equivalentes a cerca de US$ 15 a US$ 17 mensais, valor considerado insuficiente para atender necessidades básicas.
O especialista Fawaz Gerges, da Universidade de Londres, atribui a situação ao impacto direto das sanções americanas, que deterioraram as condições econômicas e afetaram diretamente os soldados e suas famílias.
Retirada de apoio internacional
Outro fator decisivo foi a redução no apoio militar externo. O Irã, o Hezbollah e a Rússia, que desempenharam papel crucial no fortalecimento do Exército sírio nos últimos anos, diminuíram seu apoio devido a vários fatores. A guerra na Ucrânia, por exemplo, forçou a Rússia a se retirar de algumas de suas operações militares na Síria.
O Hezbollah também perdeu capacidade de apoio em terra devido a seus próprios desafios no Líbano. Além disso, os ataques israelenses contra operações iranianas e a pressão no espaço aéreo sírio reduziram a capacidade de intervenção desses aliados.
Deserções e a perda de moral
Oficiais e soldados sírios demonstraram estar em desespero psicológico e sem motivação para lutar. O esgotamento, a falta de recursos e a perda de apoio externo contribuíram para a rápida fuga de muitos soldados em meio aos avanços dos rebeldes. A correspondente da BBC, Barbara Plett Usher, informou que oficiais se desfizeram de armamentos e uniformes para se misturar à população civil e evitar confrontos.
Yezid Sayigh, do Centro Carnegie para o Oriente Médio, afirma que essa situação reflete a perda gradual da confiança no governo Assad, especialmente após uma série de políticas administrativas e militares mal-sucedidas implementadas desde 2016.
A unificação dos rebeldes como fator-chave
A rápida queda também se deveu ao fortalecimento da oposição, que se unificou sob um comando único, otimizando suas estratégias militares e investindo em ações para garantir apoio da população civil. O discurso dos rebeldes, prometendo liberdade religiosa e segurança para os civis, contribuiu para a rápida adesão e o avanço sobre as forças leais ao governo.
Gerges comparou a situação atual ao colapso do regime do xá do Irã em 1979, destacando como a combinação de fatores internos e externos levou à queda tão rápida e surpreendente do governo Assad e seu Exército.
Conclusão
O colapso do Exército sírio resulta de uma combinação de fatores: perda de efetivos humanos, fraquezas econômicas, sanções internacionais, a retirada de apoio militar por aliados estratégicos e a falta de motivação entre as tropas. O cenário revela um Exército enfraquecido, que, diante da pressão rebelde, preferiu recuar em vez de se manter no campo de batalha.
Esses eventos refletem uma transformação no cenário político e militar da Síria e mostram um momento decisivo para o futuro do país e seus cidadãos.