Por Redação – 01/12/2024 às 10:04 

A história de Marcolino José Dias, conhecido como o “Herói Negro”, é um dos feitos mais extraordinários da Guerra do Paraguai e do Exército Brasileiro. Exaltado pelo General Osório, Marcolino se tornou uma lenda, não apenas por sua coragem incomum, mas também por sua trajetória de resistência e superação, sendo uma figura emblemática da bravura de soldados negros na história militar do Brasil. 

Em meio ao caos da Guerra do Paraguai (1864-1870), Marcolino, um ex-escravo que conquistou sua liberdade, teve um feito heroico que o imortalizou: durante uma batalha feroz, ele enfrentou sozinho dezenas de soldados paraguaios, invadiu um forte inimigo e hasteou a bandeira do Império do Brasil no topo, substituindo a bandeira paraguaia. Esse ato de coragem e destreza foi lembrado e reverenciado pelo General Manuel Luís Osório, que o reconheceu como símbolo de força e heroísmo. 

A Guerra do Paraguai, que devastou o continente, foi marcada por intensas batalhas e um alto custo humano. Marcolino, que se alistou no Exército Brasileiro após conquistar sua liberdade, se destacou como integrante do 2º Regimento dos Zuavos Baianos, uma unidade composta por voluntários negros. Essa unidade foi fundamental nas mais importantes batalhas do conflito, como a Batalha do Avaí, a Batalha de Tuiuti e a Batalha de Curupaty. No entanto, foi durante a Batalha de Curuzu que sua coragem e destreza brilharam de forma singular. 

Em meio a tiros e explosões, Marcolino, em um ato de audácia, subiu pelas costas de um de seus soldados e pulou para o lado de dentro de um forte paraguaio, onde enfrentou os inimigos em combate corpo a corpo. Mesmo em desvantagem numérica, ele derrotou os soldados paraguaios e tomou a bandeira do inimigo, hasteando a bandeira do Brasil como símbolo da vitória e da resistência. 

Esse feito heroico não passou despercebido. O General Osório, comandante das forças brasileiras, mencionou com honra a coragem de Marcolino, chamando-o de “Herói Negro”. Sua ação foi amplamente divulgada na imprensa da época, especialmente nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador, onde Marcolino foi aplaudido como um verdadeiro herói nacional. 

Marcolino José Dias, que nasceu por volta de 1830 e conquistou sua liberdade por volta de 1845, não apenas se destacou no campo de batalha, mas também foi um exemplo de superação e resistência. Seu nome foi praticamente apagado pela história, mas hoje sua memória é resgatada como um símbolo da luta pela liberdade e pela justiça. 

Além de seu feito histórico, a presença de soldados negros nas forças armadas brasileiras durante a Guerra do Paraguai também carrega um significado profundo, representando a luta por igualdade e reconhecimento em uma época marcada pela escravidão. Marcolino, como muitos outros, foi parte fundamental da vitória brasileira, e seu legado continua a inspirar gerações. 

Quem foi General Osório? 

Manuel Luís Osório, o General Osório, é uma das figuras mais reverenciadas da história militar brasileira. Nascido em 1808, Osório teve uma carreira militar brilhante, destacando-se na Guerra do Paraguai como um líder corajoso e visionário. Seu nome é associado à estratégia, à lealdade e ao respeito pelos seus soldados, qualidades que o tornaram uma figura admirada por todos, tanto dentro quanto fora dos campos de batalha. 

Marcolino José Dias é, sem dúvida, um dos grandes heróis esquecidos da história brasileira. Sua coragem, resiliência e contribuição para a vitória na Guerra do Paraguai são agora reconhecidas como parte essencial da construção do Brasil. O “Herói Negro”, exaltado por um dos maiores generais da história do país, representa não apenas a força de um soldado, mas o poder da resistência, da liberdade e do heroísmo. 

No final da Batalha teria declarado a todos os presentes, “Está aqui o negro Zuavo Baiano!”. Foi honrosamente mencionado pelo Comandante Geral das Forças Brasileiras General Osório como o “Herói Negro”. A companhia dos Zuavos a qual Marcolino era um dos comandantes foi praticamente destruída na desastrosa Batalha de Curupaiti. 
 
Sobrevivendo a Guerra do Paraguai sem grandes ferimentos, Marcolino José Dias foi recebido como Herói na Bahia em 1868, onde passou a exercer a Função de Comando da Guarda Municipal. Em 1869 foi condecorado com a Medalha Imperial Ordem do Cruzeiro, a mais alta honraria concedida a um dos Zuavos Baianos. Ainda em 1867, por Decreto de 15 de junho, foram concedidas honras de posto de Capitão do Exército e Alferes da Guarda Nacional a Marcolino 
 
Anos mais tarde, Marcolino José Dias, junto de seus companheiros de Guerra, participou ativamente da Campanha Abolicionista, comprando a Alforria de escravos e colaborando com a imprensa abolicionista da Bahia. 
 
Nos anos finais do Império, foi lembrado pelo poeta e orador abolicionista, Vicente de Souza, em um discurso público na presença do Barão de Cotegipe e da Princesa Isabel, dias antes da Assinatura da Lei Áurea, no seguinte verso: “Em Curuzá, foi um negro, o glorioso Marcolino José Dias, o primeiro a plantar entre os Canhões do Inimigo, a Nossa Gloriosa Bandeira!”. Marcolino faleceu em Fevereiro de 1888, meses antes da Abolição da Escravidão. 

Fonte: 

 Segredos e revelac̜ões da história do Brasil de Gustavo Barroso e Pedro Calmo 

 Diários de Joaquim Nabuco de Evaldo Cabral de Mello 

 Bahia’s Independence: Popular Politics and Patriotic Festival in Salvador Por Hendrik Kraayz

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