Candidato Jordan Bardella, de 28 anos, obteve entre 31,5% e 32,4% dos votos, margem muito à frente de Valérie Hayer, do partido no poder
O partido de direita Rassemblement National (RN, Reunião Nacional) conquistou neste domingo (9) quase um terço dos votos nas eleições para o Parlamento Europeu na França, muito à frente da aliança centrista do presidente Emmanuel Macron, segundo estimativas. O candidato de direita Jordan Bardella, de 28 anos, obteve entre 31,5% e 32,4% dos votos, margem muito à frente de Valérie Hayer, do partido no poder (15,2%), e do socialista Raphaël Glucksmann (14% a 14,3%), segundo estimativas das instituições Ifop e Ipsos. Os outros partidos que conseguiram representação no Parlamento Europeu pela segunda maior economia da União Europeia são o França Insubmissa (esquerda radical, de 8,3% a 8,7%) e Os Republicanos (direita, 7% a 7,2%), de acordo com esTes institutos de pesquisa. O Reconquête (extrema direita) e os ecologistas da EELV estão em torno de 5%, o limite para obter representação eleitoral. A soma do RN e do Reconquête significa que a direita se aproxima de 40% dos votos na França.
A vitória de Bardella representou um duro golpe para Macron e seu primeiro-ministro, Gabriel Attal, que se envolveram amplamente no final da campanha com o objetivo de frear a direita, que, segundo o presidente francês, poderia “bloquear” a UE.
Medida Deseperada após a derrota
Emmanuel Macron decidiu pela dissolução da Assembleia Nacional . O comunicado da dissolução deu-se poucos momentos depois da forte subida do partido de Marine Le Pen, Rassemblement National (RN), nas eleições europeias.
Não se trata, obviamente, de golpe de estado, mas de um dispositivo possível de ser acionado em uma república democrática semipresidencialista, como é o caso da França.
Prerrogativa presidencial na Constituição de 1958, a dissolução da Assembleia Nacional, anunciada domingo por Emmanuel Macron, é a sexta da Quinta República e só ocorreu oito vezes em mais de cem anos.
Após consulta ao Primeiro-Ministro, ao Presidente da Assembleia Nacional e ao Presidente do Senado, Macron acionou o artigo 12.º da Constituição, o mesmo utilizado por Jacques Chirac em 1997. A dissolução do parlamento como resposta a mudanças do eleitorado é um processo possível e constitucional, embora não habitual na França.
A dissolução decidida por Jacques Chirac, em 1997, viu a esquerda conquistar a maioria dos assentos, dando origem à nomeação de Lionel Jospin como primeiro-ministro. Anteriormente, porém, as duas dissoluções pronunciadas em 1877 e 1955 tinham sido um fracasso para os governos que as haviam decidido em Conselho de Ministros.
Cumpre notar que Macron não dissolveu o parlamento que venceu as eleições deste domingo (esse parlamento é o europeu), mas sim dissolveu o parlamento que venceu as eleições em 2022. O efeito mais imediato da sua decisão é a convocação de novas eleições legislativas, que deverão ser realizadas automaticamente dentro de 20 e 40 dias.
Outro elemento a ser considerado é que a dissolução afeta todos os textos parlamentares – projetos de lei ou propostas de lei -, cujos debates estão paralisados. Um deles é o polêmico texto sobre a morte assistida. A nova legislatura retomará as discussões do zero quando a Câmara for renovada.
Em dois turnos, as eleições, pelo método de votação majoritária, ocorrerão nos dias 30 de junho e 7 de julho de 2024.
O campo centrista, de Macron, terá de se aliar a outros grupos se não quiser sofrer uma derrota ainda mais pesada. E isso num contexto inédito onde o RN e seu presidente Jordan Bardella são os grandes favoritos. A líder dos deputados nacionalistas, Marine Le Pen, disse no domingo à noite que o seu movimento estava “pronto para exercer o poder se os franceses confiarem neles”.
Segundo analistas, a opção de Macron pela dissolução foi audaciosa, perigosa. Se ao final deste processo a escolha dos franceses recair sobre o RN, Jordan Bardella poderá emergir como primeiro-ministro e o chefe de Estado corre o risco de confiar amanhã as rédeas do poder ao partido cujo progresso prometeu travar.