Por redação atualizado em 02/12/2024 as 07:16
O lixo eletrônico é uma crescente fonte de preocupação global. Países em desenvolvimento, como Gana, estão se tornando centros de extração de metais preciosos de resíduos tecnológicos, apesar dos imensos riscos ambientais e para a saúde. A prática envolve a queima e destruição de materiais, resultando em sérios danos à saúde dos trabalhadores e à contaminação do meio ambiente.
O comércio de lixo eletrônico
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o lixo eletrônico é o resíduo que mais cresce no mundo, com 62 milhões de toneladas produzidas em 2022, o que representa um aumento de 82% desde 2010. Equipamentos eletrônicos como smartphones, computadores e outros dispositivos estão se tornando obsoletos rapidamente, alimentando uma demanda por sua reciclagem, muitas vezes de maneira ilegal e arriscada.
Em locais como o lixão de Agbogbloshie, em Gana, trabalhadores extraem metais como cobre e ouro dos dispositivos eletrônicos. Para isrso, frequentemente queimam plásticos e outros componentes, liberando vapores tóxicos que afetam a saúde dos envolvidos, incluindo dores respiratórias e intoxicações, como relatado por moradores e trabalhadores locais. Abdulla Yakubu, um jovem trabalhador, descreve a dificuldade de respirar devido à poluição do ar no local, e Abiba Alhassan, mãe de quatro filhos, relata sentir-se mal devido à exposição constante a essas condições.
Desafios na reciclagem e o tráfico de resíduos
A reciclagem do lixo eletrônico é um processo complexo devido à variedade de materiais e substâncias químicas presentes, como metais pesados e plásticos, que não podem ser facilmente separados ou tratados. A ONU indica que apenas 15% do lixo eletrônico global é reciclado adequadamente, o que resulta na exportação ilegal desses resíduos para países com infraestruturas inadequadas para gerenciá-los.
Investigações apontam que o lixo eletrônico está sendo transportado ilegalmente, muitas vezes disfarçado como “bens reutilizáveis”. A prática ocorre em vários portos ao redor do mundo, como o de Nápoles, na Itália, onde autoridades descobriram contêineres que deveriam transportar carros, mas que na realidade estavam repletos de lixo eletrônico. Além disso, o contrabando é facilitado por táticas como triturar o lixo eletrônico e misturá-lo com plásticos, dificultando a detecção nas alfândegas.
Consequências para a saúde e o meio ambiente
Os efeitos do lixo eletrônico queimado ou descartado de forma inadequada são altamente prejudiciais tanto para a saúde humana quanto para o meio ambiente. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a exposição a substâncias como chumbo, mercúrio e cádmio pode causar sérios distúrbios de neurodesenvolvimento, especialmente em crianças e mulheres grávidas. A OMS também alerta para o risco de intoxicação crônica e de doenças respiratórias graves em trabalhadores informais que manipulam esses resíduos sem proteção adequada.
A Ação Global contra o tráfico de lixo eletrônico
Em resposta ao crescente problema, a Convenção de Basileia, um tratado global sobre resíduos, vai exigir, a partir de 2025, que os exportadores de lixo eletrônico declarem os resíduos e obtenham permissão dos países destinatários para enviá-los. Essa ação visa aumentar a transparência e reduzir o tráfico ilegal de resíduos, que envolve organizações criminosas internacionais. No entanto, alguns países, como os Estados Unidos, ainda não ratificaram o tratado, o que permite a continuidade do comércio ilegal em algumas regiões.
Além disso, as autoridades continuam a monitorar o tráfico de lixo eletrônico em regiões do Sudeste Asiático e da África, com apreensões recorrentes, como a de 106 contêineres na Malásia, entre maio e junho de 2024. Tais práticas estão cada vez mais dificultando a detecção e o controle do comércio ilícito.
O tráfico de lixo eletrônico e a extração ilegal de metais preciosos de dispositivos tecnológicos são uma crescente ameaça global, que expõe trabalhadores a condições extremas e coloca em risco o meio ambiente. Ações internacionais, como a Convenção de Basileia, são essenciais para mitigar o impacto, mas ainda existem lacunas na implementação que precisam ser abordadas para combater efetivamente o comércio ilegal e os riscos à saúde e à sustentabilidade.