Identificado como “descendente de escravos” pelo jornal espanhol As, o brasileiro Igor Paixão não ficou calado. O atacante do Feyenoord publicou um texto nas redes sociais com uma resposta em tom duro contra a manchete de cunho racista utilizada pelo diario antes de partida pela Champions League.

– Ao falar de minha trajetória, logo no título, o racismo “não-tão-velado”: o descendente de escravos. Fosse por minha realidade humilde, a mesma de muitos dos meus companheiros. Fosse por minha cor, a mesma de grande parte do mundo. Fosse por minha forma de ser ou a “ameaça” que trago a eles – publicou o brasileiro.

Igor Paixão tem origem quilombola, grupo étnico-racial formado por descendentes de escravos fugitivos durante o período da escravidão. A matéria, que conta a história do jovem atacante brasileiro, recebeu muitas críticas relacionadas ao cunho racista do título.

– Se somos descendentes de escravos, o somos porque fomos escravizados. Nos roubaram de nossas casas, de nossas famílias, de nosso livre arbítrio e de nossas vidas. Mas hoje não somos mais – reiterou o atacante do Feyenoord.

O Feyenoord perdeu por 3 a 1 para o Atlético de Madrid e não tem mais chances de classificação na Champions League. A equipe holandesa jogará o mata-mata da Liga Europa.

Aos 23 anos, Igor Paixão disputa sua segunda temporada pelo Feyenoord, da Holanda. Revelado nas categorias de base do Coritiba, o atacante passou por empréstimo ao Londrina e se destacou no Coxa nos anos de 2021 e 2022, até ser vendido por 8 milhões de euros (R$ 41,6 milhões, na cotação da época).

Veja o texto de Igor Paixão na íntegra:

Eles sempre se disfarçam. Por meios de palavras elegantes, de dinheiro, de formas de se portar e até mesmo dos cargos que ocupam.

Eles são sutis. Nem sempre deixam a mostra todo o preconceito que carregam por gerações e gerações.

Eles são espertos. Porque na maioria das vezes se safam ao cometerem um dos mais hediondos crimes da história: o racismo.

Mas nem sempre eles disfarçam, nem sempre são sutis e nem sempre são espertos. Às vezes são explícitos e descarados, resultado de anos e anos de impunidade. E esperam o momento certo para destilar o preconceito que carregam dentro de si.

Nesta semana, foi a vez do Jornal AS, do país onde joga meu companheiro de profissão, de vida e de cor, Vinicius Junior, que sofre diariamente com o ódio de quem simplesmente não aprendeu a superar um mal que jamais deveria ter existido, mas que há tanto tempo é criminoso.

Ao falar de minha trajetória, logo no título, o racismo “não-tão-velado”: o descendente de escravos.

Fosse por minha realidade humilde, a mesma de muitos dos meus companheiros. Fosse por minha cor, a mesma de grande parte do mundo. Fosse por minha forma de ser ou a “ameaça” que trago a eles. Fosse pelo que fosse, só há uma palavra para descrever isso: racismo.

Se somos descendentes de escravos, o somos porque fomos escravizados. Nos roubaram de nossas casas, de nossas famílias, de nosso livre arbítrio e de nossas vidas. Mas hoje não somos mais.

Somos livres para pensar, falar e ser o que queremos, e isso ninguém irá roubar de nós.

Sutis, como são, dirão que “entendi errado o contexto”, e irão disfarçar “tirando o texto do ar”, e de forma esperta continuarão fazendo, com outros, e me tornarão um alvo.

Mas tudo bem. Porque juntos somos mais fortes. Sempre seremos mais fortes. E nunca, nunca mais, caminharemos sozinhos.

Racistas jamais passarão.

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