Por Redação
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), admitiu que sua abordagem sobre segurança pública, marcada pela defesa do uso da força policial, pode ter contribuído para o aumento da violência policial no Estado. Sua declaração foi feita durante evento promovido pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), no qual discutiu-se o cenário da segurança pública no país.
Descrevendo a segurança como uma “ferida aberta”, Tarcísio enfatizou que seu discurso político exerce impacto direto sobre as condutas dos policiais e as estratégias adotadas pelas forças de segurança:
“Tem que parar para pensar onde estamos errando. Se erramos no discurso… O nosso discurso tem risco. No nosso discurso, a gente dá o direcionamento”.
Essa reflexão revela uma mudança de postura do governador em relação a uma questão central: a responsabilização de líderes políticos pelo uso da força policial e os resultados que suas palavras e decisões geram no ambiente de segurança.
Câmeras corporais: uma mudança na postura do governo
Além de abordar a responsabilidade no discurso, Tarcísio também fez autocrítica sobre sua posição anterior quanto ao uso de câmeras corporais pelos policiais. Essas ferramentas, que têm sido fundamentais em investigações de conduta policial, foram minimizadas pelo governador no passado. Agora, no entanto, ele reconhece que essa perspectiva estava equivocada, sinalizando uma disposição para ajustar estratégias e investir em práticas que aumentem a transparência e a confiança da sociedade no sistema de segurança.
O cenário em São Paulo tem sido marcado por episódios graves de violência policial, como o caso recente do PM que arremessou um homem de uma ponte e a morte trágica de uma criança em Santos. Esses eventos têm gerado forte pressão social por mudanças na abordagem policial, principalmente no que diz respeito a práticas de controle e uso excessivo da força.
Um painel de alto nível para enfrentar a crise da segurança
No evento, que contou com a presença do Ministro da Justiça Ricardo Lewandowski, do Ministro do STF Gilmar Mendes e da professora Joana Monteiro, coordenadora do Centro de Ciência Aplicada à Segurança Pública da Fundação Getúlio Vargas,** foi debatida a urgente necessidade de mudanças estruturais no sistema de segurança pública. Joana Monteiro destacou a importância de um discurso político responsável e o investimento em estratégias inovadoras para enfrentar o crime.
Lewandowski, por sua vez, manifestou apoio à aprovação da PEC da Segurança Pública, que visa constitucionalizar o Sistema Unificado de Segurança Pública e criar diretrizes nacionais mais efetivas para combater a criminalidade. Contudo, essa proposta esbarraria na resistência entre os Estados, preocupados com a perda de autonomia para gerirem suas próprias forças de segurança.
Tarcísio de Freitas demonstrou apoio à ideia de reunir os governadores para discutir o avanço da PEC, mas os obstáculos políticos e administrativos ainda são um desafio a ser superado.
Análise: O peso da retórica política na segurança pública
As declarações de Tarcísio revelam um momento de introspecção necessário para um cenário crítico de segurança. Seu reconhecimento de que seu discurso possui riscos e que a estratégia de reforçar o uso da força pode ter contribuído para a escalada da violência policial sugere que é preciso reconstruir a confiança entre as instituições e a sociedade.
No entanto, fica claro que esse diálogo deve ir além do simples ajuste retórico ou de estratégias individuais. É necessário implementar medidas institucionais robustas para enfrentar as causas da violência, como falta de recursos, deficiências no treinamento policial e o uso inadequado da força.
A discussão sobre câmeras corporais é um passo importante, mas deve ser complementada por uma série de outros investimentos e reformas estruturais no sistema de segurança. Esses incluem a revisão de protocolos operacionais, a melhoria no sistema de inteligência policial e o fortalecimento das políticas de combate ao crime com foco em inteligência e planejamento estratégico.
Conclusão: É preciso mais do que autocríticas para restaurar a confiança
Tarcísio de Freitas parece estar em uma posição de autocrítica, mas a questão é se essas mudanças propostas se transformarão em ações efetivas no longo prazo. Reconhecer o erro no discurso é importante, mas não é suficiente. O governador e os responsáveis pela gestão da segurança pública em São Paulo precisam apresentar ações claras, baseadas em transparência, controle institucional e investimento em mecanismos de prevenção.
A pressão social, intensificada por atos graves como os citados, exige respostas rápidas, objetivas e eficazes. Assim, é fundamental que o discurso político seja traduzido em estratégias e políticas públicas que realmente reestruturem o sistema de segurança, com a participação de todos os atores responsáveis pelo combate ao crime e pela garantia da ordem pública.
Tarcísio e sua equipe terão o desafio de transformar esse momento de autocrítica em uma verdadeira oportunidade para a reestruturação e consolidação de uma segurança pública que respeite os direitos humanos, mas que também combata o crime com transparência e responsabilidade.
Tb, sou contra a PEC da “segurança pública”, pois ela tira a autonomia dos governadores, porém mantém as responsabilidades. É a tão sonhada, pela esquerda, “criação” da famigerada Guarda Nacional.
Sou a favor das câmeras corporais usadas por algumas PM, creio q deva ser ampliado e, tb, instalação de câmeras em todas viaturas da PMESP.