Por Leo Godinho
Introdução: O Cenário Atual
A recente disputa pelo comando da Igreja Bola de Neve – marcada por ações judiciais, acusações de divisões internas e questionamentos sobre a liderança – trouxe à tona reflexões importantes sobre a coerência entre discurso e prática no âmbito religioso. Este episódio desafia não apenas a estrutura da igreja, mas também sua credibilidade enquanto comunidade cristã que deve refletir os princípios ensinados por Jesus.
Paralelo Bíblico: Os Fariseus e a Crítica de Jesus
Ao longo dos Evangelhos, Jesus confrontou lideranças religiosas que pregavam valores elevados, mas falhavam em vivê-los. Em Mateus 23:3-4, Ele alerta: “Pois atam fardos pesados e difíceis de carregar, e os colocam sobre os ombros dos homens; eles mesmos, porem, nem com um dedo querem movê-los.” Esse contraste entre ensino e prática encontra eco na situação atual da Igreja Bola de Neve, onde os ideais de unidade e amor cristão parecem ser obscurecidos por disputas de poder e interesses individuais.
Outro ensinamento relevante está em Mateus 5:25-26, onde Jesus instrui: “Entre em acordo rapidamente com seu adversário, que o está levando ao tribunal. Faça isso enquanto ainda estiver com ele a caminho, ou ele poderá entregá-lo ao juiz, e o juiz à guarda, e você poderá ser jogado na prisão. Eu lhe garanto que você não sairá de lá enquanto não pagar o último centavo.” Esse trecho enfatiza a importância de resolver disputas de forma pacífica e direta, evitando exposições públicas que possam comprometer a integridade do testemunho cristão.
Mateus 18:15-35 também apresenta princípios fundamentais para lidar com conflitos. Nos versículos 15 a 17, Jesus ensina: “Se o seu irmão pecar contra você, vá e a sós com ele mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir, você ganhou seu irmão. Mas, se ele não o ouvir, leve consigo mais um ou dois outros, de forma que ‘toda a questão seja estabelecida pelo depoimento de duas ou três testemunhas’. Se ele se recusar a ouvi-los, conte à igreja; e, se ele se recusar a ouvir também a igreja, trate-o como pagão ou publicano.” Esse processo gradual e pacífico é um modelo para a resolução de conflitos internos, evitando escaladas desnecessárias.
Nos versículos 21 a 35, através da parábola do credor incompassível, Jesus enfatiza a importância do perdão ilimitado. Assim como Deus perdoa nossas dívidas, somos chamados a perdoar os outros. Esse princípio contrasta diretamente com os atos de vingança ou rixas que podem surgir em disputas institucionais.
A Igreja Primitiva: Um Modelo de Unidade
A descrição da igreja primitiva em Atos 2:42-47 apresenta um exemplo inspirador de comunhão e partilha: “Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum.” Esse modelo contrasta com as divisões modernas, lembrando-nos que a essência da igreja não está na disputa por cargos, mas na busca pelo bem coletivo e na manifestação do amor de Cristo.
O apóstolo Paulo também abordou a questão das divisões na igreja ao escrever aos coríntios: “Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer” (1 Coríntios 1:10). Sua advertência é pertinente para comunidades que enfrentam crises internas, como a Igreja Bola de Neve.
O Testemunho Público e o Impacto das Ações
Quando uma igreja perde sua coerência interna, seu testemunho perante o mundo também é comprometido. Em Mateus 5:14-16, Jesus chama os cristãos de “luz do mundo”, afirmando que suas boas obras devem glorificar ao Pai. Conflitos públicos e disputas judiciais, contudo, ofuscam essa luz e afastam os não-crentes, reforçando estereótipos negativos sobre a instituição religiosa.
Conclusão: O Caminho da Restauração
Para que a igreja recupere sua identidade e missão, é necessário um retorno aos princípios bíblicos de humildade, serviço e unidade. Os ensinamentos de Cristo e o exemplo da igreja primitiva são lembretes poderosos de que o verdadeiro poder da liderança está no servir, e não no buscar ser servido. A restauração da credibilidade passa por atos concretos de reconciliação, transparência e compromisso com o evangelho.
Que este episódio seja uma oportunidade de reflexão não apenas para os envolvidos diretamente, mas também para toda a comunidade cristã, desafiando-nos a viver de forma mais coerente com os valores que professamos.