Por Leo Godinho 17/12/2024

Nos últimos anos, uma narrativa golpista tem sido amplamente disseminada, especialmente em setores da mídia mainstream e do Judiciário. O foco dessa narrativa é a ideia de que houve uma tentativa de golpe, vinculando as Forças Armadas e setores políticos a uma trama conspiratória. No entanto, a análise detalhada dos fatos e das condições envolvidas revela inconsistências e fragilidades em tal narrativa.

Narrativa: Conceito e importância na construção de discursos

Uma narrativa é a forma como uma história é contada, estruturada e interpretada. Ela envolve a seleção de fatos, a forma como são apresentados e conectados, e os significados atribuídos a esses fatos. Narrativas têm o poder de influenciar percepções, moldar opiniões e mobilizar pessoas em torno de ideias ou interesses específicos. Elas podem ser utilizadas tanto para promover verdades concretas quanto para disseminar falsidades, distorções ou interpretações que favorecem uma agenda ou uma visão de mundo.

A criação de uma narrativa envolve a escolha de quais eventos serão destacados, como serão estruturados e interpretados, e que tipo de conclusões serão apresentadas. Em tempos de incerteza, polarização ou crise, as narrativas tendem a se tornar uma ferramenta poderosa, muitas vezes sendo usadas para justificar ações ou direcionar o debate público.

A falácia da incompetência militar

Crer que setores altamente treinados, como as Forças Especiais, que já participaram de operações no Brasil e no exterior (como no Haiti e no Rio de Janeiro), estariam propensos a cometer erros estratégicos graves em uma operação tática, é uma suposição simplista e, por vezes, até ofensiva. As Forças Armadas brasileiras, especialmente os comandos de elite, são conhecidos por seu treinamento rigoroso e capacidade de execução em cenários críticos.

A ideia de que militares experientes, como generais de 4 estrelas, permitiriam que provas vinculando a eles e a possíveis conspiradores fossem deixadas ao acaso ou expostas, também é extremamente improvável. A história de operações secretas e missões de defesa mostra que essas entidades possuem mecanismos eficientes para eliminar evidências que possam comprometer operações estratégicas.

A narrativa da improbabilidade e o golpe inexistente

A narrativa atual sugere uma trama golpista, mas há um consenso crescente de que não há provas concretas ou evidências claras que comprovem tal afirmação. O papel do Judiciário e da mídia na divulgação incessante dessa narrativa cria um ambiente de incerteza e polarização. Argumenta-se que, após dois anos da transição de governo, ainda se busca documentos e depoimentos que não parecem esclarecer devidamente o que realmente aconteceu.

Isso levanta a questão sobre a legitimidade e a precisão das investigações e as razões por trás da manutenção de uma narrativa que não se sustenta em fatos concretos.

A retórica do poder e da vingança

Durante a campanha presidencial, um dos candidatos afirmou que “o importante é criar narrativas” para vencer a disputa política. Essa frase reflete a forma como algumas lideranças percebem o papel das narrativas em tempos de crise: como uma ferramenta para mobilizar seguidores e reforçar uma agenda política.

Além disso, declarações como a de que “se vingaria daqueles que eram seus opositores” reforçam a ideia de que, em vez de focar em construir um caminho legítimo, a busca por vingança e a tentativa de manipular o discurso podem ser prioridades. A decisão judicial que resultou na anulação da condenação de forma técnica (como problemas com CEP, por exemplo) alimenta ainda mais a narrativa de que há intervenções baseadas em interesses políticos e não necessariamente na aplicação justa da lei.

Conclusão: Narrativas e seus efeitos

Narrativas, quando mal utilizadas, podem distorcer a realidade e criar divisões profundas na sociedade. No caso das acusações de um golpe, a falta de provas concretas e a continuidade das investigações baseadas em suposições subjetivas levantam preocupações sobre a justiça e a credibilidade das instituições.

Ao final, o que se tem são narrativas que, em muitos casos, substituem os fatos objetivos, criando um campo fértil para a desconfiança e a polarização, sem uma abordagem crítica e fundamentada.

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