Por Leo Godinho

A República, no Brasil, não nasceu de um anseio popular, mas de um golpe militar que, embora tenha alegado um desejo de progresso e modernização, impôs uma mudança de regime sem o respaldo do povo. A transição do Império para a República foi marcada por um profundo descompasso entre os ideais que se propagaram e a realidade política que se instaurou. 

O golpe de 1889, liderado por militares com o apoio de uma pequena elite, derrubou a monarquia de Dom Pedro II sem que houvesse uma consulta ao povo. Esse ato, que supostamente visava consolidar uma nova ordem, ignorou o pacto social que deveria ser firmado entre governantes e governados. A República, portanto, foi uma imposição de uma minoria, desconectada das necessidades e aspirações da grande maioria da população brasileira. 

A falta de um referendo ou consulta popular sobre o novo regime já revelou uma das grandes falácias que acompanhariam a República desde sua origem. Os republicanos, ao proclamarem o novo sistema, prometeram um Brasil mais democrático, justo e republicano. Contudo, o que se viu foi uma República caracterizada pela perpetuação das oligarquias regionais, pela centralização do poder nas mãos de uma elite cafeeira e pela exclusão das camadas populares dos processos decisórios. 

O mais irônico é que, quase 100 anos depois, em 1989, um referendo sobre a forma de governo foi finalmente realizado, dando ao povo a oportunidade de se pronunciar sobre a continuidade da República ou o retorno da monarquia. Essa demora em cumprir a promessa de ouvir a população é uma evidência da falta de compromisso real dos republicanos com os princípios democráticos. O povo, finalmente, teve a chance de escolher, mas o regime republicano já havia se consolidado, e os rumos do Brasil estavam longe de serem definidos pela maioria. 

Além disso, a República brasileira foi marcada por instabilidade política, golpes militares, ciclos de crise e reformas que nunca conseguiram cumprir integralmente suas promessas. Cada passo dado foi mais uma tentativa de amenizar os efeitos de um sistema que, desde o início, foi torto, sem a legitimidade necessária para representar o povo. O Brasil, então, tornou-se uma nação que, ao longo de sua história republicana, lutou para encontrar o equilíbrio entre as aspirações populares e a imposição de uma ordem política que sempre esteve muito distante da realidade vivida pelas massas. 

Portanto, a República brasileira não pode ser vista apenas como uma alternativa ao Império, mas como um projeto político que se afastou da verdadeira democracia e do pacto social. A falta de apoio popular desde a sua criação e a demora em reconhecer a voz do povo em um referendo quase cem anos depois mostram que, em muitos aspectos, a República foi construída sobre promessas não cumpridas e uma distorção daquilo que deveria ser a vontade popular. O Brasil segue, então, em busca de um sistema que represente, de fato, os desejos e os direitos de todos os seus cidadãos, e não apenas de uma minoria que, ao longo da história, tem ditado os rumos do país. 

Respostas de 2

  1. E se continuar com esse regime, entre aspas, democrático, sabe-se lá se ainda teremos um país chamado Brasil para morar….

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