Por Léo Godinho
Recentemente, a Folha de S.Paulo publicou uma matéria intitulada “PM rescinde contratos de limpeza, e soldados são tirados das ruas para limpar banheiro e alojamento”, que apresenta uma narrativa questionável sobre a organização interna e as obrigações dos militares. Como conhecedor das rotinas e tradições militares, considero essencial pontuar os equívocos e as interpretações simplistas que permeiam o texto.
Hierarquia, disciplina e treinamento pedagógico
No meio militar, a hierarquia e a disciplina são pilares fundamentais. Desde o primeiro dia de formação, seja como recruta ou aluno em cursos de aperfeiçoamento, todos os militares são conscientizados sobre a multiplicidade de funções que lhes cabem. Entre essas funções estão as tarefas de faxina e manutenção, que não são apenas questões administrativas, mas também instrumentos pedagógicos.
A realização de tarefas como limpeza não é vista como algo menor, mas como parte de um treinamento que ensina organização, responsabilidade e respeito pela coletividade. Essas atividades são geralmente delegadas aos militares mais modernos – aqueles com menos tempo de serviço –, reforçando também a dinâmica da hierarquia.
Práticas administrativas e otimização de recursos
Embora muitas unidades militares pelo país tenham optado por terceirizar a limpeza para facilitar a administração, a realização dessas tarefas pelos próprios militares é uma prática comum e prevista em normativas internas. O retorno temporário a esse modelo – seja por restrições orçamentárias ou pela rescisão de contratos com empresas terceirizadas – não configura uma situação alarmante. Pelo contrário, demonstra a capacidade da instituição militar de se adaptar às circunstâncias, mantendo a disciplina e a eficiência operacional.
Crítica ao tom da matéria
A abordagem da Folha peca por ignorar esses aspectos fundamentais. Ao tratar as tarefas de limpeza como uma “desqualificação” ou “desvio de função”, o texto revela desconhecimento sobre a natureza do serviço militar. A matéria também sugere, de forma enviesada, que tais práticas depreciam os soldados e comprometem a segurança pública, sem considerar que a organização interna e o cumprimento de suas obrigações são aspectos indissociáveis da profissão militar.
Valorizando o serviço militar
Militares não são apenas agentes de segurança nas ruas; eles são integrantes de uma instituição com valores, tradições e uma missão que vai além do combate ao crime. Desempenhar tarefas internas, como a limpeza de alojamentos, é parte do processo que molda o caráter e a dedicação ao coletivo.
Criticar a organização militar por retornar às suas próprias práticas, especialmente sem compreender o contexto, é um desserviço às instituições que garantem a segurança e a ordem. Antes de depreciar o governo ou as instituições militares, é fundamental reconhecer que esses profissionais estão, acima de tudo, cumprindo suas funções e obrigações com dedicação e respeito à disciplina.