Mudanças no perfil epidemiológico desafiam políticas públicas e reforçam a necessidade de prevenção e diagnóstico precoce.
Por Redação
15/12/2024 – 23h00
![](https://atitudenew.com/wp-content/uploads/2024/12/Cancer-supera-doencas-cardiovasculares-como-principal-causa-de-morte-no-Brasil.jpg)
O Brasil está passando por uma transformação significativa no panorama de saúde pública: o câncer tem se tornado a principal causa de morte em um número crescente de municípios, ultrapassando as doenças cardiovasculares em diversas localidades. Um estudo publicado na revista The Lancet – Regional Health Americas revela que, entre 2000 e 2019, a proporção de municípios brasileiros em que o câncer lidera as causas de óbito passou de 7% para 13%.
A pesquisa, conduzida por acadêmicos da Universidade da Califórnia e da Unifesp, analisou dados de 5.570 municípios ao longo de duas décadas. Nesse período, a mortalidade por doenças cardiovasculares apresentou redução em 25 das 27 unidades da federação, enquanto as mortes por câncer aumentaram em 15 estados.
Fatores de mudança
Um dos fatores centrais para a diminuição das mortes cardiovasculares é a queda significativa do tabagismo, atribuída a políticas públicas de prevenção e conscientização. A médica Anelisa Coutinho explica que o impacto das mudanças de comportamento é mais evidente nas doenças cardiovasculares, enquanto os efeitos nas taxas de mortalidade por câncer tendem a ser mais demorados, devido à natureza de progressão lenta da doença.
No entanto, o avanço do câncer como causa de morte também reflete questões de estilo de vida. A obesidade, por exemplo, saltou de 10% para 20% da população desde 2000, sendo um dos principais fatores de risco associados a diferentes tipos de câncer.
“Estimamos que cerca de um terço dos casos de câncer poderiam ser evitados com mudanças no estilo de vida, como alimentação balanceada, prática de exercícios físicos e controle do peso”, destacou Coutinho.
Desafios e políticas de enfrentamento
Para combater essa tendência, foi aprovada a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer, que busca reduzir a incidência da doença e melhorar o acesso ao diagnóstico e tratamento. Contudo, a implementação de estratégias eficazes esbarra nas limitações financeiras e estruturais do sistema de saúde pública, especialmente nas regiões mais vulneráveis.
A transição epidemiológica – fenômeno natural no desenvolvimento das nações – traz à tona a necessidade de uma abordagem equilibrada: embora as doenças cardiovasculares estejam em queda, especialistas alertam para a importância de não reduzir os esforços em sua prevenção, enquanto se intensificam as ações de combate ao câncer.
Caminhos para o futuro
Diante desse cenário, a conscientização e a educação em saúde são pilares fundamentais. Políticas que incentivem o diagnóstico precoce, campanhas de prevenção e investimentos na ampliação do acesso ao tratamento podem ajudar a reverter a tendência.
O Brasil está diante de um desafio duplo: manter os avanços na redução das mortes cardiovasculares e enfrentar com maior eficácia o crescimento do câncer como ameaça à saúde pública.
Com informações da revista The Lancet – Regional Health Americas e especialistas em saúde pública.