Como a tecnologia está transformando a sociedade — e porque os mais vulneráveis podem pagar o preço mais alto.

Por Léo Godinho – Atitude New
A inteligência artificial deixou de ser ficção científica há muito tempo. Enquanto muita gente ainda associa a tecnologia a robôs futuristas e filmes como Matrix, a IA já atua silenciosamente em áreas essenciais da nossa vida: da educação à saúde, do sistema judiciário à segurança pública, das redes sociais à seleção de currículos.
E o mais preocupante: ela pode estar decidindo por nós — sem que saibamos, sem transparência, e, muitas vezes, com viés.
A invisível influência no cotidiano
Se você usa o Google, o Instagram ou o Pix, você já é usuário da inteligência artificial. Quando um vídeo viraliza, quando uma compra é sugerida, quando seu nome é analisado por um software de recrutamento — tudo isso já passa por sistemas de IA que cruzam dados, detectam padrões e “decidem” o que você deve ver, fazer ou consumir.
Mas o que acontece quando essa “inteligência” começa a substituir professores, médicos, policiais ou juízes?
O abismo social digital
No Brasil, onde a desigualdade já é histórica, a IA pode ampliar ainda mais esse fosso. Um algoritmo de reconhecimento facial mal calibrado pode identificar falsamente um negro como criminoso. Uma IA usada por bancos pode negar crédito a quem mora na periferia, sem explicações. Softwares educacionais podem reforçar preconceitos e excluir alunos com menos acesso à tecnologia.
Segundo levantamento da Rede de Observatórios da Segurança, os erros em algoritmos de reconhecimento facial já levaram pessoas inocentes à prisão, especialmente homens negros. E isso não é futuro — é agora.
O perigo do “piloto automático”
Um dos maiores riscos da inteligência artificial não é a máquina em si — é a passividade humana diante dela.
Empresas e governos estão terceirizando decisões para algoritmos. O discurso da “eficiência” e da “objetividade” muitas vezes esconde a lógica do lucro, da vigilância e da exclusão social. A quem interessa um sistema que calcula tudo, mas não sente nada?
“Um algoritmo pode prever que uma criança abandonará a escola — mas não pode entender por que ela tem fome”, resume a pedagoga Ana Paula Silva, especialista em tecnologias na educação.
Fé, ética e limites
Na esfera da fé, há quem veja a IA como uma ferramenta útil, inclusive para evangelização. Mas também há quem alerte: quando a criação começa a dominar o criador, algo se inverte. A Bíblia nos chama à sabedoria, não à delegação cega de responsabilidade.
“Podemos usar a tecnologia para o bem, mas nunca devemos abdicar do discernimento espiritual e humano”, diz a pastora e professora universitária Patricia Lima.
Um desafio urgente: regulamentar e educar
Enquanto países como a União Europeia e os EUA já discutem legislações robustas para regular a IA, o Brasil caminha a passos lentos. Sem uma regulação ética e democrática, os algoritmos podem perpetuar desigualdades e criar uma forma de opressão invisível: a algocracia — o governo dos algoritmos.
E mais: a educação digital precisa ser ampliada. Não é só ensinar a usar o celular, mas ensinar a entender como as máquinas pensam, para que a sociedade mantenha o controle.
A inteligência artificial é uma ferramenta — não um oráculo. Ela pode nos ajudar, mas também pode nos manipular, excluir e silenciar. Tudo depende de quem a programa, com que finalidade, e com que valores.
Mais do que nunca, precisamos garantir que a humanidade não seja substituída pela eficiência, nem a justiça pelos cálculos.
Porque no fim das contas, inteligência é só parte da equação. O que define uma sociedade justa não é só o que ela sabe — mas o que ela escolhe fazer com o que sabe.