Crise política sem precedentes coloca governo Yoon Suk Yeol em xeque; oposição ameaça impeachment e sindicatos iniciam greve geral. 

Por Victor Oliveira04/12/2024 06h49 | Atualizado às 09h44 

O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, revogou nesta quarta-feira (4, noite de terça no Brasil) o decreto de lei marcial imposto no dia anterior. A medida havia gerado forte rejeição no Parlamento e desencadeado protestos em massa, agravando a maior crise política do país nas últimas décadas. 

A imposição da lei marcial, inédita em mais de 40 anos, foi justificada por Yoon como uma resposta a ameaças vindas da Coreia do Norte e de “forças antiestatais”. No entanto, a decisão gerou reação imediata: deputados da oposição, sindicatos e até aliados do presidente criticaram duramente a medida, pedindo sua renúncia. 

A Assembleia Nacional, controlada pela oposição, rejeitou a lei marcial em votação emergencial, desafiando o cerco militar ao Parlamento. A Constituição sul-coreana exige a suspensão da lei marcial se for rejeitada pela maioria dos parlamentares. 

Oposição ameaça impeachment 

Após a revogação, o líder do opositor Partido Democrático anunciou que buscará o impeachment do presidente caso ele não renuncie. “Se Yoon não sair voluntariamente, iniciaremos imediatamente os procedimentos de destituição”, afirmou. 

Sindicatos influentes declararam greve geral por tempo indeterminado, e membros do próprio partido de Yoon, o Partido do Poder Popular, pediram explicações. Han Dong Hoon, líder da sigla, afirmou que “todos os responsáveis devem prestar contas por essa situação trágica”. 

Pronunciamento e reação pública 

Yoon anunciou a revogação da medida em pronunciamento televisionado na manhã de quarta-feira, menos de 12 horas após decretar a lei marcial. “Aceito o pedido da Assembleia Nacional e ordenei a retirada das tropas”, declarou o presidente. 

Milhares de manifestantes que desafiavam o frio intenso celebraram a revogação em frente ao Parlamento, onde entoavam frases como “Prendam Yoon Suk Yeol”. Para Lim Myeong-pan, manifestante de 55 anos, “esse ato sem justificativa legítima é um crime grave que selou o destino político de Yoon”. 

Crise política e impactos econômicos 

A decisão inesperada de Yoon abalou os mercados financeiros. A bolsa de Seul abriu com queda de 2%, e o won sul-coreano atingiu seu nível mais baixo frente ao dólar em dois anos. 

Nos Estados Unidos, principal aliado da Coreia do Sul, o governo Biden expressou alívio com a revogação. “Esperamos que as desavenças sejam resolvidas pacificamente”, afirmou o secretário de Estado, Antony Blinken. 

Especialistas, no entanto, apontam que a crise pode ter consequências duradouras. “É um movimento desesperado de um líder profundamente impopular, que só ampliou o isolamento político de Yoon”, avaliou Alan Yu, pesquisador do Center for American Progress. 

Com a aprovação pública em apenas 19%, Yoon Suk Yeol enfrenta um cenário político cada vez mais incerto. 

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